Ao
caminharmos pela Praça Memórias do Jaçanã encontramos o simpático senhor
Villa, que mora no bairro do Jaçanã desde os 4 anos de idade. Hoje com 74 anos, ele nos dá uma entrevista rica sobre vários detalhes do bairro.
A
entrevista a seguir foi transcrita com pequenas adaptações para uma maior
compreensão das informações.
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Foto do Senhor Evilazio. Autor:Juliana Modesto |
"Meu nome é Evilazio Ferreira Fontes e eu moro
aqui há 70 anos. Quando eu vim
morar aqui no Jaçanã eu tinha 4 anos de idade, de lá eu segui todo o crescimento
aqui do nosso bairro. Na década de 50 praticamente não tinha nada, era muito
mato e aqui onde nós estamos no momento era uma rua de terra e cascalho, com um
corredor de eucaliptos muito antigos, porque esse hospital é muito antigo. O
corredor levaria até o Hospital São Luiz que antigamente não tinha o pronto
socorro, era só um hospital para tuberculosos. A Serra da Cantareira começava
justamente atrás do Hospital. "
Como é o bairro se comparado com antigamente?
“Apesar de ser
muito diferente de antigamente, era muito melhor do que é hoje porque aqui
tinha poucas casas e poucas lojas. Aqui não tinha nada, onde eu morei no Jardim
Modelo nem rua tinha, as ruas foram abertas tudo a mão, pá, picareta, enxada e
uma caçambinha puxada a burro que o pessoal enchia e construíram as ruas daqui.
Aqui na
época minha de moleque, o pessoal fala do Trem das Onze, mas eles não falam da
boiada que vinha de Carapicuíba que fazia esse trajeto aqui na Avenida. Vinha
pela Maria Amália passava no Horto Florestal, passava aqui e ia para o
matadouro de Guarulhos também... pra você ver que aquela época quando vinha a
boiada de lá, eles vinham pela Avenida porque não tinha fluxo de carro”
Ele também nos conta sobre o famoso trem das onze e suas estações:
[...] Passava o trem ali na Avenida Guapira, era a linha
dele. Ele saia da Ponte Pequena e ia até o Centro de Guarulhos, saia de lá da
Rua Cantareira com a João
Teodoro, fazia ali onde é o Tietê, passava no Carandiru, Areal, Parada
Inglesa, Tucuruvi, Jaçanã, Vila Galvão, Torre de Tibagi, Gopouva, Vila Augusta
e Guarulhos, seriam as estações que ele parava. Agora sobre o trem
das 11, ele não saia às 11 horas, ele vinha de Guarulhos e passava às 11 horas
aqui. Então existe a composição de Adoniran Barbosa que é famosa e uma música
muito conhecida e tradicional do nosso Bairro.[...]”
Sobre curiosidades do bairro:
"Aqui tinha uma lagoa de onde extraiam areia e também a fábrica de filmes
brasileiros, com a freqüência de muitos artistas que seriam os personagens dos
filmes, como Anselmo Duarte, Adoniran Barbosa, Bibi Ferreira e outros que no
momento eu não lembro. Foram filmados aqui os filmes Rastro na Selva, Dólar
Surrado e o Comprador de Fazendas."
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O comprador de Fazendas. Fonte:Bairro do Jaçanã Sp, ontem e hoje. |
“Antigamente não
era Jaçanã o nome do bairro, seria Chácara Guapira. Ele passou a ser o Jaçanã
devido ao clima e as lagoas que eu falei, por isso tinha muito pássaro Jaçanã
aqui, então foi mudado o nome de Chácara Guapira para bairro Jaçanã, devido aos
pássaros...”
As aves Jaçanãs que tinham em bastante quantidade aqui,
ainda tem?
“Não, não tem porque os lagos acabaram todos, aqui chegou até ter
represa no Edu Chaves. As lagoas que eles tiravam areia começavam aqui na Serra
da Cantareira e iam até a via Dutra, só lagoa. Depois eles passaram a construir
a rodovia Fernão Dias em 1959... Quando ela foi construída o trem foi
desativado. Foi em 1965 a última viagem dele.”
“Quando eu mudei pra cá era a época que passava o trem,
lá na Vila Galvão passando por baixo da Ponte da Fernão Dias você vai ver uma marquise
que nivelava a passagem do trem, para ele poder pegar o plano novamente e até
hoje ela existe, ficou um marco entende? E até hoje não desmancharam, talvez
virou um patrimônio histórico.”
Tem alguma coisa da época do senhor que ainda esta aqui
preservada?
“Aqui quando eu comecei no primário a escola fazia frente
a linha do trem mas depois ela foi desativada. Logo depois que foi desativada a
linha do trem, a escola foi desativada também.”
Qual era o nome da escola?
“Julio Pestana”
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Muro da escola Julio Pestana na Avenida Guapira. Autor:Juliana Modesto
“Existe até hoje aqui, só que ela mudou de local porque
antes era em outro lugar, mas ai veio um colégio chamado Aparecida que teria
que arcar com dinheiro porque era pago. Depois essa escola também saiu de lá,
não sei se ela foi extinta ou se existe ainda, mas passou a ser uma região da
prefeitura e construíram um condomínio, agora é um condomínio.”
A Praça mais antiga do bairro é essa aqui?
“Não, essa praça aqui veio depois, a praça mais antiga é
a Praça Comendador Alberto de Sousa, a praça que é da época do trem. Quem
descia do trem desembarcava e saia na praça, e você pode ver que ela é
asfaltada e é paralelepípedo ainda até hoje”
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O senhor chegou a utilizar o trem na época?
“Ah sim, era minha condução de trabalho desde quando me
conheço por gente, eu sou da época do trem e do bonde, tanto viajei no trem
quanto viajei nos bondes também.”
E como foi pro senhor ver tudo que mudou aqui?
"Bom apareceu tudo, tudo que você vê aqui é novo, em vista
da minha época, aqui, por exemplo, não era praça, se você quiser conhecer todas
as praças vai ter que andar muito [...] aqui o que mais tem é praça, como eu
moro aqui há 70 anos conheço São Paulo e grande São Paulo e você vê que é um
bairro que você anda e não tem morro [...] aqui pra mim é um dos melhores
bairros."
E comparando o ar daqui da região com o ar de outras
regiões de São Paulo dá pra sentir a diferença?
“Dá pra sentir pelo que você esta vendo, nosso bairro
aqui é cheio de praças e tem a mata da serra da Cantareira [...] O Asilo que é
o Dom Pedro II e o Hospital São Luiz que também faz parte da Santa Casa foram
construídos aqui devido o clima e eles existem até hoje”
Tem algum lugar nostálgico do senhor aqui?
“De importante... Tudo é importante aqui, agora de
importante pessoal eram os bailinhos que tinham aqui, e justamente eram aqueles
bailinhos dos anos 60. Tinham os salões de baile e os bailinhos de garagem. Aqui
mesmo tem uma casa que a dona era professora e a garagem da casa era comprida e
nossos bailinhos eram todos ali, era muito gostoso, muito bom... era fim de
semana que a gente se reunia, tipo uma reunião de amigos[...]”